domingo, dezembro 25, 2005


Pano de fundo: "Chega de saudade" - Jobim & Vinícius

quinta-feira, dezembro 22, 2005

O crepúsculo das cores

Se todas flores do mundo fossem iguais
Não seriam flores,
Seriam retratos-pastel de bibelôs feios.

Tristonho seria o bater do peito
E essa minha necessidade de amar se ia.

A pêra já não molharia as bocas túrgidas
E o carrossel giraria em tons de cinza
Opondo-se à poesia.

No entanto, sei que toda flor é única,
Das mais variadas quentes cores,
E que por isso nunca será uma igual à outra.

Nos jardins os bálsamos suavizam o revés
E os anjos cirandam pelo novo dia.

Meu fado plantou-me uma Flor perfeita
E por saber que a primavera da vida é bela
É que o amanhã me vem colorido.

L. Valdez - e. p.

quarta-feira, dezembro 21, 2005

Metade

Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo que eu acredito não me tape os ouvidos e a boca.
Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio.

Que a música que eu ouço ao longe seja linda, ainda, que triste.
Que a mulher que eu amo seja sempre amada, mesmo que distante.
Porque metade de mim é partida e a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece, nem repetidas com fervor,
Apenas respeitadas como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos.
Porque metade de mim é o que eu ouço, mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço.
Que essa tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada.
Porque metade de mim é o que penso, mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste, que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto o doce sorriso que eu me lembro ter dado na infância.
Porque metade de mim é a lembrança do que eu fui, a outra metade eu não sei...

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito.
E que o teu silêncio me fale cada vez mais.
Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba,
E que ninguém a tente complicar porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer.
Porque metade de mim é platéia e a outra metade é canção.
E que a minha loucura seja perdoada.
Porque metade de mim é amor e a outra metade também.

Oswaldo Montenegro

terça-feira, dezembro 20, 2005

Minha sorte é menino peralta

Minha sorte é menino peralta
A pular amarelinha com meus medos.
Sua estripulia virginal
Borbulha os sonhos incertos
De criança ingênua que sou.

Às vezes encontro-me feliz,
Tal qual um girassol-feliz.
Às vezes encontro-me triste,
Tal qual uma estátua-triste.

E ao ver toda essa melancolia,
Faz ela girar meu mundo novamente
Levando-me para os campos verdejantes
Onde sorridente torce-me o braço
Como numa brincadeira de irmãos.

L. Valdez - e. p.

domingo, dezembro 18, 2005

Receita de Viver

Fiz uma vez uma receita de viver...
Viver é expandir, iluminar. Viver é derrubar barreiras entre os homens e o mundo. Compreender. Saber que, muitas vezes nossa jaula somos nós mesmos, que vivemos polindo as nossas grades, ao invés de delas nos libertarmos.
Procuro descobrir nos outros sua dimensão universal, única. Sou coletivo. Tenho o mundo dentro de mim. Um profundo respeito humano. Um enorme respeito à vida; acredito nos homens. Até nos vigaristas. Procuro desenvolver um sentido de identificação com o resto da humanidade. Não nado em piscina se tenho o mar. Por respeitar cada ser humano, em todos os cantos da terra, e por gostar de gente - gostar de gostar - é que encontro em cada indivíduo o reflexo do universo.
As pessoas chamam de amor ao amor-próprio. Chamam de amor ao sexo. Chamam de amor a uma porção de coisas que não são amor. Enquanto a humanidade não definir o amor, enquanto não perceber que o amor é algo que independe da posse, do egocentrismo, da planificação, do medo de perder, da necessidade de ser correspondido, o amor não será amor.
A gente só é o que faz aos outros. Somos conseqüência dessa ação....
Talvez a coisa mais importante na vida seja não vencer na vida, não se realizar. O homem deve viver se realizando. O realizado botou ponto final. Não podemos viver, permanentemente, grandes momentos. Mas podemos cultivar sua expectativa.
Acredito em milagres. Nada mais miraculoso que a realidade de cada instante. Acredito no sobrenatural. O sobrenatural seria o natural mal explicado, se o natural tivesse explicação. Enquanto o homem não marcar um encontro consigo mesmo, verá o mundo com prisma deformado e construirá um mundo, em que a lua terá prioridade.
Um mundo de mais lua que luar.

Adolpho Bloch

sexta-feira, dezembro 16, 2005

Amor divino e amor profano

Primeiro vamos definir o que é amor:
"O amor é o desejo forte, que existe em todos nós, de construir um vínculo estável e sólido com outro ser. O objetivo desse elo é experimentarmos uma sensação de paz, harmonia e proteção encarando os relacionamentos como oportunidades para aprendermos e como desafios para o nosso crescimento pessoal", mas o amor perdeu a simplicidade original de uma pura troca de sentimentos.
Hoje o propósito dos relacionamentos é a satisfação de nossas necessidades pessoais, fazendo que nossos interesses venham antes do bem estar dos outros; gratificação física e sexual estão no topo de nossa lista. A maior prova disto são os dias que vivenciamos, as pessoas trocam sentimentos vazios umas com as outras, usam ambos os corpos para satisfazerem suas luxurias sexuais e fortalecem seus egos, e as conseqüências desses atos deixam seqüelas emocionais, cicatrizes sem marcas: tais como o medo, ódio, a inveja, a superioridade, entre outros.
As pessoas não se entregam por inteiro ao amor, elas apenas utilizam o amor físico para satisfazer a vontade de amar, eu chamaria isso de medo da solidão. O receio de estar só transforma as pessoas em seres de duas faces, onde estão dispostos a enganarem seus sentimentos para preencher o vazio.
Exemplo: Duas pessoas que não sentem exatamente nada uma pela outra, acabam de se relacionar, estão juntas só pela satisfação do momento ou até mesmo por uma certa pressão da sociedade que os obriga sempre estar ativo no campo do amor para não serem chamadas de solitários e estranhos. E no outro dia uma revê a outra e nem sequer consegue lembrar o nome dela, pois a satisfação já está completa e ambos já provaram à sociedade que são capazes de amar, agora estão dispostos a enganarem seus sentimentos novamente, pois estão sedados pelo prazer material (carnal).
Já o homem usa a desculpa do amor para provar sua masculinidade a si mesmo, e o mais importante, aos outros, o único objetivo de tantas garotas, de quantas ele levou pra cama, etc. É que ele quer mostrar o quanto macho ele é, mesmo que com isso ele fira sentimentos alheios, ou até mesmo os seus.
Hoje o amor não é nada mais que um jogo, onde homens e mulheres procuram os seus pares para dançar, e nessa jornada pontua mais quem conquistar mais pares, provando sua sexualidade. Veja quanto o amor é lindo: o amor se resume em suprir suas falhas, mas enquanto não achar o par perfeito, serve qualquer um(a), com dinheiro e beleza de sobra, para garantir que ele seja eterno.
Eu amo as pessoas que merecem meu amor e que dão o valor que lhe é digno. Não estou sendo egoísta, apenas não quero experimentar a dor da decepção. Não estou disposto a ser escravo deste amor, o amor é um sentimento além de minha compreensão, meu coração está fechado para novas decepções, não iludirei meus sentimentos por prazeres finitos e imperfeitos. Eu gastarei meu amor comigo e o retorno será satisfatório.
"O amor é o sentimento mais perfeito do universo. Seria possível seres imperfeitos como nós compreendê-lo?"

xMRNx

quarta-feira, dezembro 14, 2005

O Beija-flor

Acostumei-me a vê-lo todo o dia
De manhãzinha, alegre e prazenteio,
Beijando as brancas flores de um canteiro
No meu jardim - a pátria da ambrosia.

Pequeno e lindo, só me parecia
Que era da noite o sonho derradeiro...
Vinha trazer às rosas o primeiro
Beijo do sol, nessa manhã tão fria!

Um dia foi-se e não voltou... Mas quando
A suspirar me ponho, contemplando,
Sombria e triste, o meu jardim risonho...

Digo, a pensar no tempo já passado:
Talvez, ó coração amargurado,
Aquele Beija-flor fosse o teu sonho!

Auta de Souza

Conjeturar

terça-feira, dezembro 13, 2005

Nachtschatten

Lacrimosa - Sombra da noite

Im Herzen der Stille
Im Herzen der Nacht
Wie oft hab' ich mich schon gefragt
Wo Du gerade bist
Wie oft hab' ich mich schon gefragtob
Dir gerade Liebe widerfährt

Auf einem Fest - vielleicht in Cannes
In einem Club - vielleicht in Rom
Vielleicht Du ganz alleine diese Nacht verbringst
in einem Grandhotel in Wien

Im Geist Dich so begleite
Und Dich öfter so kann sehen
So kommen sie mir näher
die Schatten aus den Ecken
Diese Schatten meiner Einsamkeit
von den Wänden kriechen sie
Und sie kommen mich zu holen
Und versperren mir die Sicht
Und der Raum wird immer grösser
Und darin ich immer kleiner
Und die Stille wird zur Melodie der Herzens
Und das Sehnen wird zum Wesen meiner Seele
Und stark ist meine Seele
Und gewaltig ist das Hoffen
Und meine Sehnsucht ist unstillbar
Gleich der Liebe zart und mächtig
Und sie reisst mich aus der Einsamkeit
Führt mich zu Dir!

Und so treffe ich Dich in Cannes
Und vielleicht auch schon in Rom
Vielleicht bin ich der Mann
Der Dich anruft wenn Du einsam bist
Im Grandhotel in Wien

segunda-feira, dezembro 12, 2005

Vem sentar-te comigo Lídia

Download do poema recitado por Paulo Autran

Vem sentar-te comigo Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassosegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podiamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento -
Este momento em que sossegadamente nao cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-as de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.

E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim - à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.

Ricardo Reis

Em dias chuvosos eu faço meu pôr-do-sol.

domingo, dezembro 11, 2005

Acontecimento

Aqui estou, junto a tempestade
Chorando como a criança
Que viu que não eram verdade
O seu sonho e a sua esperança.

A chuva bate-me no rosto
E em meus cabelos sopra o vento.
Vão-se desfazendo em desgosto
As formas do meu pensamento.

Chorarei toda a noite, enquanto
Perpassa o tumulto nos ares
Para não me veres em pranto,
Nem saberes, nem perguntares:

“Que foi feito do teu sorriso,
que era tão claro e tão perfeito?”
E o meu pobre olhar indeciso
Não te repetir: “Que foi feito?”

Cecília Meireles

Peripécias de um elevador

Veja!
Eu vejo você
Mas finjo que não
- E sei que faz o mesmo.

A sobrenatureza nos permite a escolha do não-querer.
Mas continuo ali estático,
Sem alegria, sem coragem e sem razão.

Elevador elevador
Eleva minha dor que dói sozinha
Como o destino de um punhal.

O balbucio me distrai
E esconde minha esquisitice.
Finjo novamente.

[...]
Continuo questionando...
Mas por que questiono?
Por quê?

L. Valdez

Jurema

Jurema é assim:
Tão boba que chega a dar dó
Gosta do gosto da manga
E veste sempre os sapatos
Com os pés trocados

Escreve marrom com "A"
Faz caretas aos bichos
É teimosa e não escova os dentes
Cedo viaja Com as pluminhas que saem do travesseiro
À noite fica calma
Cócegas a deixa nervosa.
Chata.

Que estranho, Jurema.
És parecida com alguém.
Mas quem?
Nossa!

L. Valdez - e. p.