quinta-feira, outubro 22, 2009

O Cacto

Aquele cacto lembrava os gestos desesperados da estatuária!
Laocoonte constrangido pelas serpentes.
Ugolino e os filhos esfaimados.
Evocava também o seco nordeste, carnaubais, catingas...
Era enorme, mesmo para esta terra de feracidades excepcionais.

Um dia um tufão furibundo abateu-o pela raiz.
O cacto tombou atravessado na rua,
Quebrou os beirais do casario fronteiro,
Impediu o trânsito de bondes, automóveis, carroças,
Arrebentou os cabos elétricos e durante vinte e quatro ho-
[ras privou a cidade de iluminação e energia:

- Era belo, áspero, intratável.

Petrópolis, 1925

M. Bandeira