domingo, dezembro 11, 2005

Acontecimento

Aqui estou, junto a tempestade
Chorando como a criança
Que viu que não eram verdade
O seu sonho e a sua esperança.

A chuva bate-me no rosto
E em meus cabelos sopra o vento.
Vão-se desfazendo em desgosto
As formas do meu pensamento.

Chorarei toda a noite, enquanto
Perpassa o tumulto nos ares
Para não me veres em pranto,
Nem saberes, nem perguntares:

“Que foi feito do teu sorriso,
que era tão claro e tão perfeito?”
E o meu pobre olhar indeciso
Não te repetir: “Que foi feito?”

Cecília Meireles

Nenhum comentário: